domingo, 21 de fevereiro de 2010

Entrevista com Fernanda Terra do Final Fight


1 - Como e quando surgiu a idéia de montar a banda Final Fight? E como é tocar com Chris Skepis (ex Cock Sparrer) e Demente?

Em 2004 Chris estava procurando 2 mulheres pra tocar com ele e com o Deca, o ex guitarrista, eu não conhecia eles ainda, mas conhecia a Bya a ex baixista que me chamou pra banda. Era praticamente outra banda e ainda chamava Gutter Cats, de uma hora pra outra a Bya e o Deca saíram da banda e o Demente cobriu um show que já estava marcado e ficou pra sempre, e já existia uma banda chamada Gutter Cats então mudamos o nome pra Final Fight, e tipo praticamente mudou total a cara da banda, pq antes a gente tocava mais cover de Cock SParrer e The Clash, tinha uma ou outra música própria, aí a gente começou a compor mais. Mas isso tudo foi fluindo acontecer assim, não planejamos nada, e desde então eu e o Chris não paramos mais de tocar juntos. O Chris é uma figura né? Independente de ter tocado na puta banda da Inglaterra lá, ele mesmo é uma figura, já viveu tanta coisa no rock, quem não conhece tem que conhecer. Hoje em dia alem de tudo somos super amigos. E eu curto tocar com o Demente, a gente faz um som desde quando a gente tava começando a ficar. A gente alugava o estúdio só pros 2 e ficava lá tocando. Mas aí na banda as coisas ficam mais serias já teve show que a gente tinha brigado e a gente entrou brigado no palco, moh ruim isso, mas talvez tivesse sido ruim tb se tivesse rolado a briga e soh ele fosse tocar ou só eu. Sei lá já me falaram que onde se ganha o pão não se come a carne, mas eu acho legal tocar com namorado, “erraria’ tudo de novo rs.

2 – Nos conte sobre as outras atividades que você exerce relacionadas à arte.

Eu trampo como Designer desde 98, desenho desde que me entendo por gente, pinto quadros faz alguns anos, toco batera desde 92, já fiz aula de piano quando eu era criança mas nem conta rs . Agora to dando aula de batera pra um aluno que já me pedia faz um tempo pra ter aula e tava total sem tempo, to gostando, e acho que já arrumei mais um aluno, já tinha dado aula há muito tempo atrás, agora voltei.

3 – Você ainda sente que há preconceito sobre minas tocando bateria? Quando começou, tinha muita gente dizendo pra você trocar de instrumento?
Tem até hoje, claro...Toda hora falam que eu tinha quer ser vocalista, você já ouviu minha voz? Acho que não né? Hahaha...Nenhuma vocação pra vocal meu, mas enfim... Hoje até sinto certo respeito, o foda é que antigamente os comentários pesavam mais pq meio que levava a me questionar sobre mim mesma, eu era super nova, aí ouvia: “po... tocar bateria com esse pulso fino? Vc nunca vai tocar legal’ Vc acaba ficando em dúvida, mas aí com o tempo vc vai aprendendo que tem técnica se vc souber usar, vc acaba tocando muito mais pesado que um homem bombadão. É que nem nas artes marciais, vc vê aqueles japinhas magrelinhos apavorando um monte de gente...É técnica!!!! Aí vc vai rompendo essas barreiras que eu acho que foram mais difíceis. Hoje em dia se eu ouço alguém falar alguma coisa preconceituosa nem ligo, dou até risada da ignorância, só me irrita quando a pessoa fala de alguma coisa, vai lá e faz pior, acho que vc só pode falar mal de alguma coisa se vc tem moral pra falar, se vc domina o assunto.

4 – Existe muita gente que diz que mulher não toca bem batera, acha que é somente um comentário machista? Conheço algumas que destroem (no bom sentido), cite algumas que você gosta.
Eu não to nem aí pra essas pessoas que falam esse tipo de coisa, ainda mais quando não tocam batera e tem uma opinião dessa. Eu acho que até hoje tem pouca mina que destrói na batera, mas pouco cara que destrói tb né? Proporcionalmente tem mais homens pq até hoje tem menos mulher que toca. É um instrumento que precisa de muita dedicação, é praticamente um esporte, se vc não treina vc perde a pegada.
Bateras que eu curto tocando: Liliam Carmona, Vera Figuedo, Cindy Blackman, Simone Sou, Pitchu, Samantha Maloney....


5 – Como foi tocar com o Dominatrix? E até que ponto acha válido ou maçante assuntos como feminismo e femismo?
Foi 1 mês pela Costa Oeste dos Estados Unidos, público dyke, feminista, foi bacana, experiência única.
Eu acho que toda mulher e todo homem que gosta de mulher deveriam ser feminista. O femismo até onde eu entendo, eu acho q não leva a nada, tão preconceituoso quanto machismo, mas eu entendo a visão, se eu fosse homosexual mulher, se só gostasse de mulher ia ser fácil ser femista, até mesmo pra se “vingar” de todo esse machismo que nós mulheres sofremos por todos esses anos, e assim tb como se eu fosse homosexual homem seria fácil ser machista, mas eu gosto de homens e mulheres não consigo separar gênero, então isso nunca me pegou, pra mim as diferenças são pessoais. Eu não to querendo dizer que os gays são machistas e femistas, conheço gay mais feminista que muita mulher, mas eu acho que é mais fácil ter essa atitude se a pessoa não gosta e/ou não respeita a pessoa do outro sexo.


6 – Lembro de você entregando panfleto de show do Food for Life na Vila Madalena, isso numa época que a banda estava digamos no auge, final da década de 90. Sempre te encontro nos shows underground, mesmo quando não vai tocar. Você acha que o underground ainda esta sendo prestigiado da maneira que merecia? O que acha que precisa acontecer para que a cena se fortaleça mais?
Po vc lembra? Anos 90 foi muito foda...Eu sempre fiz toda essa correria mesmo, só assim pra fazer o lance acontecer e nunca mais parei.
Eu acho que hoje em dia o pessoal tem que guardar dinheiro pra ir em shows gringos que estão super caros. Aí a chance de ele ver uma banda nacional vai ser nesse show aí e provavelmente a banda não vai ganhar nada pra abrir o show, mas a banda topa pq tem o retorno do publico que ouve pelo menos uma vez a banda, e já ouvi falar que até pagam pra abrir. Eu acho o cúmulo tudo isso. Adoro fazer show beneficente, show na rua de graça, mas acho q a partir do momento que o publico ta pagando pra entrar na casa vc tinha que ganhar uma porcentagem, e pagar é o fim ne?
Eu não sei o que acontece com a juventude de hoje, quando eu era mais nova (até hoje mesmo) sentia o maior prazer em sair, ver show, ver gente, ver zines (nossa, lembra quando TODO show tinha zines?) mandar carta pra divulgar as demos, ligar pra marcar show, curtia todo o lance underground, hoje em dia ninguém ta mais nem aí, não sei o que fazer pra cena se fortalecer mais não, eu acho que faço minha parte, conheço umas pessoas que faz tb mas não depende de 10, 11 pessoas, e sim de todo mundo. Agora se as pessoas preferem consumir empurrando com a barriga o que as grandes gravadoras escolhem pra elas eu não posso fazer nada.


7 – Obrigado Fernanda pela atenção, é um imenso prazer trocar essa idéia contigo. Parabéns por tudo que faz e fez pela nossa cena. Deixe uma mensagem para os leitores do Sub Punk.
É isso aí Fabio, valeu pela oportunidade da entrevista! Respeito, igualdade e liberdade sempre!
Pra quem for de Curitiba, dia 15 de Maio na Drum Shop vai rolar um workshop de mulheres na batera, eu e mais 4 minas tocando juntas e conversando um pouco sobre bateria, evento inédito...Acho que vai ser legal!

4 comentários:

  1. passando pra parabenizar o grande fábio sarjeta pelo blog que está excelente. longa vida ao sub punk (o blog) e a todos os sub punks que encontram neste espaço um monte de informação bacana e um cantinho pra manifestar suas idéias e opiniões. é preciso manter a cena viva e a mente sempre aberta. as atitudes certas pra isso estão disponíveis, basta optar por elas com consciência e responsabilidade. união e força!

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  2. Concordo com que a Fê disse sobre a cena hoje em dia. Tem até "produtor" que tabela preço pra banda iniciante tocar em shows, acredita?

    Parabéns pela entrevista!

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  3. Um absurdo não é fernando, todos deveriam se unir e boicotar esta tal tabela, e também os jabas que parecem ser arcáicos, mas ainda estão muito atuais hj em dia... Flavia saudades de vc, sinto muito sua falta aqui em SP.
    Fernanda uma enorme satisfação entrevista-la, abraço pra vc e o demente, até o próximo som.

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  4. Adorei a entrevista, conheço a Fe a pouco tempo, mas já posso perceber o quanto esta mulher é guerreira !
    União é a palavra mais importante neste momento, a amizade e cultivar o que gostamos é preservar o underground.
    Unir pra fazer acontecer !
    Ass.: Prika - sujo Records

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