segunda-feira, 3 de maio de 2010

Entrevista com Lambão do Deserdados


1) Como foi formada a banda Deserdados? Conte-nos a história de como veio o nome.

Em 1994 no Jardim Iguatemi, zona leste de São Paulo, eu (guitarra) conheci o Danone (baixo) e o Jamaica (bateria). Na época, os dois tocavam na banda Taquicardia. Ficamos amigos e resolvemos montar outra banda, com uma pegada um pouco diferente da que eles tocavam. Então convidamos o Alemão (vocal), que também era nosso amigo lá da área e, no começo de 1995, montamos os DEZERDADOS (com ‘z’ mesmo). O nome foi o Danone quem sugeriu. Era de um projeto de banda que ele tinha em 1992, mas que não tinha colocado em prática. Achamos o nome muito a ver com a proposta que tínhamos e ainda temos. É muito forte, muito punk. Depois mudamos para DESERDADOS com ‘s’, nem lembro por que. O nome aparenta ter uma carga bem negativa, mas na verdade não o encaramos assim. Interpretamos como se fôssemos rejeitados, repelidos pelo sistema, por não se enquadrar nele. E não nos enquadramos com orgulho. Procuramos andar à margem dele. Por isso encaramos o nome como positivo, e é esse um dos motivos pelo qual costumamos usar a estrela junto ao nome da banda.

2) Quais os materiais lançados, inclusive as demos?

Lançamos as demos Grito de Revolta (1995) e Deserdados (1997), participamos de diversas coletâneas, e lançamos os discos Revolução, Agora! (2000) pela Kaskadura Records, e o Mau Exemplo?... (2002) pela Teenager in a Box Records. No momento estamos trampando as músicas novas para outro disco.

3) Qual importância da coletânea SP Punk? Tanto pra banda, quanto para o movimento nos anos 90.

Participamos do SP Punk Volume 1 quando tínhamos apenas um ano de banda. Hoje em dia parece nada de extraordinário, mas na época, uma banda nas nossas condições sair em um CD (que era algo relativamente novo), foi muito foda. O pessoal começou a colar mais nos nossos shows, ficamos empolgados e evoluímos. Sem falar que saíram resenhas em revistas de rock, com ótimos comentários sobre o CD e sobre nós. Para o movimento como um todo, o efeito também foi muito positivo. No começo daquela década as coisas estavam meio mornas e esse CD deu um grande gás à cena. Começaram a aparecer muitas bandas novas e também bandas da antiga, que estavam paradas, voltaram a ativa. A coisa cresceu no meio dos anos 90, não só na música punk, mas na arte punk como um todo. Vivíamos o fenômeno da globalização com mais intensidade e na busca das respostas para tudo aquilo, houve uma conscientização política e muita informação foi sendo trocada com mais velocidade. Nessa época o punk também começou a interagir e absorver coisas legais de outros movimentos. Foi época também de grande adesão de meninas na cena (fruto da queda das brigas entre facções). E esta coletânea teve um grande papel. Fez parte da trilha sonora de tudo isso.

4) Qual importância dos festivais A um Passo do Fim do Mundo e o Fim do Mundo? O quanto você acha que festivais com estas estruturas fazem para o movimento hoje em dia?

Esses dois festivais podem ser considerados como o ápice do que eu estava falando. A coisa virou o século bombando. Foram dias inesquecíveis. Grande idéia de Ariel, Tina e companhia, de relacionar aquele momento, já nos anos 2000, com o Começo do Fim do mundo, que é do inicio dos 80. Fizeram uma trilogia legal e felizmente participamos dela. Festivais desse tipo só tendem a dar um gás à cena, integrar pessoas de lugares bem diferentes, e mostrar o valor e força do ‘faça você mesmo’.

5) O CD Revolução Agora foi relançado recentemente. Vocês acham que foi válido? Qual a aceitação do público?

Sim, foi muito válido porque existia uma grande procura. O público mais velho quando viu o CD de novo nas lojas teve um ‘revival’ (risos), e o mais novo teve a oportunidade de ter um material que estava fora de catálogo.

6) O espaço é seu. Deixe uma mensagem para nossos leitores.

Valeu Fabião pela entrevista. Estamos juntos! Ao leitor: Todos nós fazemos parte de uma cena que não tem fronteiras. Apóie a cena independente, e isso inclui a cena daqui do Brasil. Ainda temos um culto de achar que o que vem de fora é sempre melhor. Não é melhor e nem pior, e sim diferente, com suas particularidades. Eu costumo pensar que, para expandir, a pessoa precisa estar, primeiramente, bem com si própria, senão é muito difícil. Com o movimento acho a mesma coisa. Vá aos shows em sua cidade, compre o material das bandas, troquem idéias, escrevam zines, façam blogs, formem coletivos, organizem eventos, etc. Cada um pode contribuir de uma forma. Invente uma. A Maximum Rock and Roll, por exemplo, é o que é porque, antes de tudo, teve apoio local. Sem falar nas bandas de fora que tanto gostamos. Vamos pensar nisso e já programar o que vamos fazer no próximo fim de semana! Abraço! Vida longa ao Punk Rock!