segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Morcego entrevista Fábio Sarjeta


Ai fica fácil, entrevistar meu brother, mas não vai escapar do paredão não rsrs.

Fábio Sarjeta, descrevendo as cenas sem censuras ou cortes kkkkkkk.



1 - Morcego - Me lembro bem da cena mais ou menos em 2.000. A gente colava no Garajão (saudoso Ticos bar), aonde vinham bandas de vários picos, e juntavam loucos pra toda vertente do Rock´n Roll, a maioria das bandas faziam covers pra gente chapar e fazer o bate cabeça kkkk. Foi lá que nossa galera viu Sarjeta em ação, os caras aqui do Taboão da Serra que não faziam covers, tocavam hardcore com letras anarquistas e de crítica social, como era essa visão de traz do pedestal?


Fábio - Estou no movimento desde 1.988, mas minha identificação com a parte literária anarquista, começou através dos grupos de estudos que tínhamos principalmente no CRUSP em 1.996, antes nem sabia muita coisa, mas andava com camisa de “A” e com um visual bem chamativo. Hoje até emo modinha usa coturno e até minha querida mãe tem piercing. Naquela época a polícia tomava coturno da gente, fora que era muito difícil descolar coturno. Quando usava moicano, isso chocava demais as pessoas, hoje até David Beckham, pagodeiros e os emos usam moicano. Hoje sei que sou muito mais punk e anarquista, afinal, o verdadeiro moicano está dentro da cabeça. Punk é atitude, não somente visual. Aqui no Taboão, as bandas da década de 90 e começo deste século, que falavam de Anarquia, na verdade, nem sabiam direito o que é, era mais modismo, mas a importância maior é por conta de uma iniciação, alguns se aprofundaram.
O Garajão/Tico´s bar, juntamente com o estúdio que eu tinha, foram os dois principais pontos de encontro para a cena underground da Leptospirose city nesta década. Antes eu era mais ligado à cena do Punkrusp. O Amauri do Junk Head, que já conhecia nosso trabalho convidou a gente pra tocar no Garajão, e a gente iria fechar o show, logicamente fiquei preocupado, pois quase todas as bandas só gozavam com o pau dos outros, ou seja, eram bandas covers. E a galera naquela época não apoiava as bandas criativas, de identidade, que faziam trabalhos próprios. Mas aceitamos o convite. Tocou uma banda de hardcore melódico chamada No One Knows, me recordo que quando tocaram cover de CPM 22, a molecada pirou. Depois tocou Junk Head que tocava cover de bandas grunges, como aqui na Leptospirose City tem uma cena muito forte Grunge, o Garajão quase veio abaixo. Quando tocaram Mudhoney, eu fiquei possuído kkkkkk. Quando a gente foi tocar, esvaziou o lugar, pensei “nunca mais toco nesta merda” rsrsrsr. Ao final da primeira musica a galera entrou tudo pra dentro, e o show foi do caralho, a partir daí sempre tocamos, e Sarjeta virou uma espécie de “banda da casa”, tinham até pôster da Sarjeta e foto minha quando eu toquei pelado no festival que o grande e saudoso Tico armou na pista de skate que tinha no Pazine. Neste primeiro show eu disse ao microfone “façam suas bandas, com canções próprias, cantem em língua portuguesa, façam zines, faça crescer a cena ao qual você faz parte”. E por conta deste som iniciou-se uma era, em que a maioria das bandas que se formavam, eram com músicas próprias. Teve a partir deste show uma enchurada de bandas sendo formadas. E muitos jovens deixaram de lado as bandas do mainstream e criamos uma cena muito forte, apesar da desunião e das tretas. Hardcore melódico era forte, mas passou, agora o que esta na moda é emo, os grunges faziam uma coletividade maior com os punks, até porque Grunge no inicio era um termo destinado aos punks do noroeste estado-unidense. Ainda existem muitos punks e grunges desta época ativos na cena.



2 - Morcego - Essa de 2000 era minha cena de começar a colar em som, e de uma boa parte da galera e tal, como foi a sua?Quais eram as bandas e a proximidade que você teve com elas?


Fábio - Junk head, banda de bons e velhos amigos, e grandes companheiros, os sons deles eram uma grande festa junk rsrsrsr. Tive o prazer de tocar com eles em dois shows, e participação em vários outros sons do Junk. No One Knows, apesar da minha amizade com o vocalista Felipe, eu não me identificava com o som deles, esta banda acabou devido principalmente à entrega do Felipe ao verdadeiro movimento punk. Sarjeta e No One Knows formaram a maior rivalidade da história do underground taboanense rsrsrsr, mas isso com o passar dos anos foi superado. Mas meu ódio com hczinho é eterno! Destas bandas só sarjeta infelizmente continua na ativa. Depois vieram muitas outras bandas como, Bisoru Suku, deus Dead, Érus Ramazotis, Damião Cover Genérico Fight Club, Samsara, Enter Furians, Atentado, Hemp & Caos etc...


3 - Morcego - Fabião, o que te inspirou pra escrever as letras, e musicas, houve influência dos amigos, músicos, livros, acontecimentos?


Fábio - Com certeza tem influência de tudo isso. Tenho uma postura honesta, pois essa rigidez vem da inclinação e vontade de agir do modo que se propõe, sem ceder em hipótese alguma. Mas sinceramente não tenho preocupação em chocar, pois minhas letras acontecem naturalmente, não é apenas destruir, mas principalmente em construir algo, e combater a falta de ideais e autenticidade dentro da arte em geral, está tudo errado, e temos que parar, e recomeçar tudo novamente. Somos animais políticos, não no sentido partidário, mas no sentido de política ser vida, são relações que vivemos o tempo todo. Se ignorarmos isso, seremos mais uma espécie de animais controlados, como gados.
As influências literárias e musicais são diversificadas, Bakunin, Proudhon, Arthur Rimbaud, Kropotkin, Malatesta, Godwin, Stiner, George Woodcock, Michael Walzer, gibis Sin City, Chico Bento etc e etc... Punk 77, bandas punks nacionais, ska jamaicano e The Specials são meus prediletos, gosto também de hc old school; pré punk/garage, pós punk, surf music, psycho billy, jazz e rock alternativo.


4 - Morcego - Eu Estava em alguns shows da Sarjeta e dos Excomungados e tive o privilégio de conhecer as figuras mais trashs aprontando altas. Mas conta você pra gente um episódio que marcou das incríveis aventuras dos mestres das tosqueiras fodásticas kkkkkkk.


Fábio - No começo nós da Sarjeta não tinhamos instrumentos próprios, então em 2.001 roubamos uma guitarra de uma banda gospel, pratos de uma banda de hardcorezinho modinha e um baixo de uma banda de new metal pula-pula. Não façam isso heim! Dos excomungados, teve um som que rolou no bar do presunto em 2.006, a gente entrou numa favela, os traficantes armados de pistolas e fuzis, uma uzi, nos rendeu e nos levaram para o "abate" dizendo que éramos gansos, jogaram o parafuso no chão e começaram a bater nele, foi quando eu disse... "velho, na humildade, somos músicos e pais de família" e o cara disse "vocês tocam o que?" eu disse "punk rock, somos os Excomungados". Um deles era “ex punk”... e me disse "então canta a musica Pedido a Nathan" e eu cantei um trecho da musica, aí pararam de bater no Para e guardaram as armas... até ganhei uma paranga grátis. Mas tem muitas histórias macabras, muita loucura mesmo.


5 - Morcego - Você conviveu em um lugar de extrema importância, berço de toda forma de arte e loucura paulista. Aquele cenário, de universidade, protesto, junkeria, como era esse manicômio CRUSP?


Fábio - De 1.997 até 2.006, eu freqüentei e me doei muito para este movimento. Pessoas muito loucas e inteligentes, bandas foram formadas lá, como Sarjeta, Excomungados, Insurgentes, Fecaloma, Banda Punk, Mercenárias, Colisão Social, Meteoros, Planeta Defunto etc. Tínhamos grupos de estudos anarquistas, a gente colava nas reuniões do comitê zapatista, eu fazia a Sarjeta Zine que era impresso, e eventualmente outros publicavam outros zines, que com certeza tinham ótimos conteúdos. Transávamos muito, consumíamos drogas em excesso, fazíamos protestos, e organizávamos os eventos Prunkrusp, onde a entrada nunca foi cobrada, aliás, pedíamos alimentos não perecíveis ou agasalhos para serem doados em Ongs ou favelas. Uma época intensa e mágica.


6- Morcego - Como você entrou pro Excomungados? E como foi e é tocar os hinos punks, muitas vezes junto das bandas mais conhecidas da cena Punk?


Fábio - Eu conheci a banda em 92, era uma das minhas favoritas, e nesta época a banda estava muito em baixa, praticamente não existia mais. Quando a banda voltou em 2.000 eu colava nos sons, e sempre era convidado para tocar com eles, até que o Chinês me disse “ai Sarjeta, fica de vez na banda, porque ta foda” kkkkkkk. E com extremo prazer, e orgulho, sai do banco de reservas e virei titular.
Quanto as apresentações, as vezes é muito louco, a galera pira e eu piro junto. As vezes fica um clima de perplexidade total diante das tosqueiras e bizarrices apresentadas pela banda. Tanto a Sarjeta quanto os Excomungados, nós dividimos palco com muitas bandas, algumas muito conhecidas, outras nem tanto, algumas boas e outras ruins. Pra mim é sempre uma honra dividir palco com bandas boas ou bandas que tenham pessoas que se doam pelo movimento. Pra mim é mais importante se doar para o movimento do que ter banda boa, mas muitas vezes acontece os dois, e isto é ótimo.


7- Morcego - Vendo o decorrer dos anos, é realmente desanimador ver que muitas das boas bandas não estão onde merecem, enquanto a mídia enfia tanta porcaria na cabeça da molecada, fora todas as dificuldades de manter uma banda, ensaiar, gastos com equipamentos, a falta de espaço pra som punk, as tretas que foderam com vários sons. Você faria tudo de novo, mesmo sabendo que não há retorno financeiro?


Fábio - Com certeza sim, não me vejo de outra forma. Eu sou do subúrbio, e de uma família muito católica, e o movimento me abriu a cabeça contra o racismo, desigualdade social, homofobismo, machismo, estado etc. Portanto minha formação ideológica, meu caráter, personalidade etc, devo principalmente ao movimento punk.
Realmente é muito difícil manter uma banda honesta na ativa. Prefiro viver na sarjeta, que me entregar a mediocridade do mainstream, da sociedade e todo o seu moralismo hiprócrita e suas prateleiras morais, e a qualquer demência coletiva religiosa. È o que me faz acordar todos os dias. Enquanto eu dou um passo, a realidade, as vezes, dá dois, mas no dia seguinte eu darei três. O movimento Punk é minha muleta, a minha religião.


8 - Morcego - Você criou sua banda, e não precisa nem chegar muito perto pra ver o quanto é importante pra você. Defina o Sarjeta em uma frase.


Fábio - Nem tudo é carnaval no país do futebol.



9 - Morcego - Fabiones, valeu por responder, e em geral por toda contribuição pra nossa cena que continua a cada dia e que vamos lutar sempre pra que cresça,
pessoalmente agradeço por proporcionar os gritos de refrão, os bates e tudo que trouxe apoio a minha ideologia libertária, a influência musical underground que atingiu a mim e muitos a minha volta também. Á... e claro por tá presente costa a costa descendo o tapa nos pilantra quando precisou KKKKKKKKKKKKKKK.


Fábio - Obrigado por você existir, a galera que esta no ativismo da Sub Punk, e a todas as pessoas de bem, como você disse, vamos continuar lutando no dia a dia pela cena, e por um mundo melhor. A cena é nossa! E é a gente que tem que tomar conta dela. Se tem coisas ruins, e isso acontece em todos os setores da vida social, são individualidades, o movimento Punk não orquestra isso, nós somos a diferença. Revolução e anarquia não são e nunca foram utopias. A gente pode fazer o nosso melhor, e se alto melhorar, num exercício diário, até nosso ultimo suspiro.

Quem quiser escutar uns sons da banda Sarjeta, tem 15 para downloads gratuitos, com letras e fotos, no site bandas de garagem. bandasdegaragem.com.br/sarjeta

ou

http://bandasdegaragem.uol.com.br/hotsite/index.php?id_banda=7162



Anarquia sempre!

16 comentários:

  1. Fábio, me orgulho de vc, sei que é sua vida, você é foda mano!

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  2. Muitos anos na correria, e só quem é mesmo pra segurar a onda, você prestigia a cena num todo, com toda a dedicação, e muitas pessoas torcem o nariz ainda pra você, mas você segue em frente. Admiro sua inteligência, seu companheirismo e todo o seu senso revolucionário... mesmo quando você pisa na bola... continue como você esta, principalmente longe do alcóol e das drogas rsrsr
    te amo irmão

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  3. Parabéns ao Fábião que respeitosamente merece todo o mérito por estar até hoje com sua simplicidade e simpatia no movimento, sempre atualizado, dedicado a música Punk e lógicamente ao movimento que não para de crescer independentemente dos modistas que andam por ai.

    Abraço e força!

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  4. Valew Taturana, também de amo meu irmão. E para falar de Naftaleno é muito suspeito, pois sou fã da banda, galera humilde e toca pra caralho! Obrigado pela oportunidade Morcego, vc é atitude pra caralho!

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  5. Lembro-me muito bem quando o Fabião me levou no saudoso Garajão e me apresentou ao Tico's. Dias depois o Southtown tbm estava tocando naqueles 3 mts². A cena era muito forte, bons tempos.

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  6. eae fabio... parabens pelooo o q tu conquisto ate hj...

    um bagulhooo que eu faloooo pra vc.... hj ta muitooo faciooo mesmo arruma cuturnooo... todoo mundo tem uns furos na caraaa... eh tau..

    sei... que eu nao sou dessa epocaaa... aii q tu faloooo logooo na primeira pergunta..mais aiii... passeeii por umaa tretaa pra chega atee na ondee eu esto hj...

    apesar de muitooo emo fdp ter coisas faciuuu eh pode usar moicandooo sem tomar uns tapa na caraaa...

    nossa liberdadeeee de expreçaooo esta mais fortee eh mais altaaa agoraaaa...
    eh q tipooo assim... vc eh a galera q viveu o corre mesmooo... conquistooo essaaa liberdadeee que agenteee pode ter hj...

    ta certoooo q pra gentee q curtee mesmooo o bang... o verdadeirooo punk de rua...
    pra genteee foi meiooo que um tirooo no propriooo peh..

    pq juntooo com nossaaa liberdadeeee.... veiuuu
    essas porras aiii.. de modinhas... emos... hc fdp meiaaa bocaaa... eh por aiii vai....


    queria so deixaa um abraçaooo ai pra vc...
    pq vc eh uns dos primordios do bom eh velho Punk Sp


    Ass: Kaoru, Vocal Do BAR DO MOE'S

    http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=59429&mode=0

    http://www.myspace.com/bardomoesoficial

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  7. "O verdadeiro moicano esta dentro da cabeça..."
    É isso ae, Fabião!
    Continue assim,o movimento vai estar sempre na ativa se depender de caras como você, velho.
    Abraço!!!

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  8. O movimento depende cara como nós Edmilson, Valeu memso parceiro. Kaoru doidão rsrs, no meu ultimo aniversário fizemos um som junto, lembra? foi doido. Fabião, vc é muito foda parceiro, sou seu fã, abraço pra ti e sua família.

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  9. Pois é Fabião, sou seu fã memo... Sem saudosismo barato: encher a cara e vomintar no tico's bar era foda. Sei que se continuar com esses mesmos ideais, você vai longe. Como eu sempre fui pragmático, cuidado pro Sarjeta não virar "comercial" (rs!) Ce sabe, música de qualidade também corre esse risco!
    Abração...

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  10. E ai irmão, parabens são apenas palavras, vc faz o q faz sem esperar por elas, faz pq, simplesmente não conssegue ser omisso e pod crer q não esta sozinho.
    FORÇA E PERSEVERANÇA.
    ABRAÇÃO IRMÃO.

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  11. PORRA, Q MANCADA, saiu o meu e-mail rsrsr é PIG.

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  12. Antes de mais nada fica aqui meus parabens ao Fabiones, depois um grande agradecimento pelas citações pessoais e as do JuNkHeAd, tendo em vista que outras ainda virão, Fabião demais valeu mesmo, as doideras ainda vão voltar Fabião e agent ta junto pra causar ainda mais...Continua assim e vamo arrastando mais gente...

    Abraços

    JuNk

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  13. Fábio, parabéns pela entrevista! Ela nos mostra o quão importante é o movimento punk em sua vida e o quanto você se dedica a ele.
    Admiro a sua sinceridade e a forma como você defende as suas convicções, sem falsos moralismos ou modismos...
    Quero aproveitar para dizer que devemos sempre lutar por um mundo melhor sim. Tanto as pessoas que fazem parte de movimentos ou ong's como também aqueles não fazem. E sempre, sempre sem drogas ou álcool...Na minha visão eles são completamente contraditórios a qualquer movimento social e, logicamente e principalmente, prejudicial a saúde...Espero que você esteja longe deles...
    bjo

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  14. muito boa entrevista Fábio, falou tudo que tinha que falar.

    abração

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